“Meu amor, o que você faria se só te restasse esse dia?”. Todo dezembro me vem essa música à cabeça. Não sei se é por causa daquele clima de balanço de final de ano, ou se porque faço aniversário daqui a dois dias.
O fato é que minha lista de resoluções para o Ano Novo, que eu começo a montar nesse período do ano, sempre é baseada no que eu faria se só me restasse esse dia. Aquela sensação de poder aproveitar cada minuto. De “que se dane o que vão dizer os outros”.
Conta só o que eu quero fazer. Não importa como, nem se tem como alcançar. O importante é criar a lista. Ano passado eu a fiz mentalmente, e como me arrependo. Pequenas coisas se perderam no meio do ano, tenho certeza.
Por pouco não se foram os dias no parque e os amigos. Os bons filmes, as boas músicas. As noites tentando contar estrelas. Quase desapareceram as risadas, as lágrimas ao gargalhar, as piadas e os dias que valeram à pena. E por um triz não sumiram os inícios e os finais de tantas coisas que deveriam ser importantes.
As coisas pequenas que a gente deseja e realiza. Mas que, ao chegar dezembro, parecem nunca ter acontecido. O doce de abóbora da mãe. Aprender um passo de dança – mesmo que seja um só. Aquele beijo. Quase se perdem, mas não nesse ano. Nem no ano que vem.
Porque, para 2006, quero livros, cds e dvds. Cinema, peças de teatro, passeios no parque. Tempo e um pouco de dinheiro, nem que for só para ir para longe daqui, só para olhar a lua. Quero estar lá para os meus amigos quando eles precisarem. E oferecer minha casa para que as pessoas façam de refúgio quando tudo der errado.
No ano que vem – e que o mundo não acabe no dia seguinte –, quero acordar e ficar deitada na cama, olhando o céu. Comprar um pé de pato e uma máscara de mergulho para andar pela casa. Quero cozinhar mais, para mim e para os outros. Viajar mais. Quero carinho aos montes, para reparar o tanto que me machuquei nesse ano. Quero um colo, um beijo, um afago.
E se só me restasse esse dia, ainda assim eu acabaria de escrever esse texto. Depois iria para o litoral, só para ver o mar por uns 15 minutos e molhar o pé na água. Faria tudo o que eu não tive coragem até hoje. Dizer que amo. Pedir para que não me esquecessem. Pedir desculpas. Pedir um beijo.
Deixaria as lágrimas escorrerem na frente de todo mundo, para verem que eu não sou forte o tempo todo. E riria sozinha, para me lembrar que tudo valeu a pena. Ia me entupir de chocolate e sorvete. No fim do dia, ia tomar uma cerveja, para acabar zuzo bem. E essa sempre é uma boa lista para o Ano Novo.
Se no meu aniversário eu posso fazer o pedido que eu quiser, desejo ter vários últimos dias – para conhecer a intensidade de cada pequena coisa. Quero recobrar a fé que eu perdi. Gostar de alguém que valha a pena. Mais dias azuis, mais noites estreladas. Menos barulho, menos medo. Uma rede. Um gramado.
“Meu amor, o que você faria se só te restasse esse dia?”. Eu me faria feliz. E essa é uma promessa que eu pretendo tentar cumprir sempre.
por Letícia, aqui
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